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sexta-feira, 27 de outubro de 2023

A DOUTRINA DOS ESPÍRITOS NÃO É ASSUNTO QUE SE ESGOTA EM UMA PALESTRA

 

EM SUAS VIAGENS KARDEC MINISTRAVA ENSINOS COMPLEMENTARES AOS QUE JÁ POSSUIAM CONHECIMENTO E ESTUDO PRÉVIO.


Visitando a cidade Rochefort, na França, durante a Viagem Espírita em 1862, Allan Kardec, após ser convidado para ter com algumas pessoas que desejavam conhecê-lo e ouvir algo acerca do Espiritismo, disse:

“Antes de tudo, devo informar quanto ao objetivo que me proponho nessas excursões. Vou unicamente visitar centros espíritas e lhes dar as instruções de que possam necessitar.

Enganar-se-ia quem pensasse que vou pregar a doutrina aos incrédulos. O Espiritismo é toda uma ciência que reclama estudos sérios, como as outras ciências, e requer numerosas observações.

Para os que lhes não conhecem as primeiras noções, sou obrigado a enviá-los à fonte, ou seja, ao estudo das obras onde se acham todos os ensinamentos necessários e a resposta à maioria das perguntas que poderiam fazer e que, em sua maior parte, recaem sobre os princípios mais elementares.

Eis por que, em minhas visitas, só me dirijo aos que já sabem, aos que precisam de ensino complementar, e não de á-bê-cê. Jamais vou dar o que se chama sessões, nem convocar o público para assistir a experiências ou demonstrações e, menos ainda, fazer exibição de Espíritos.

Os que esperassem ver aqui coisa semelhante estariam completamente equivocados e devo apressar-me em lhes tirar a ilusão".

Fonte: Revista Espírita de Dezembro de 1862.

quinta-feira, 30 de março de 2023

PLATÃO (ESPÍRITO) E A GUERRA DE PALAVRAS!

Platão, segundo algumas fontes, nasceu em Atenas em 428 a.C e morre na mesma cidade em 347 a.C, foi um filósofo e matemático do período clássico da Grécia Antiga, autor de diversos diálogos filosóficos e fundador da Academia em Atenas, a primeira instituição de educação superior do mundo ocidental.

Talvez seja a figura central na história da Grécia antiga e da filosofia, juntamente com os não menos importantes Sócrates e Aristóteles. Platão está presente na filosofia natural, na ciência e na filosofia ocidental, sendo frequentemente citado como um dos fundadores do que mais tarde ficou conhecido como Espiritualismo.

Platão, segundo alguns estudiosos, era um racionalista, realista, idealista e dualista cujas ideias vão inspirar essas filosofias mais tarde.

Nos interessa, sobremaneira, uma comunicação deste filósofo contida em O LIVRO DOS ESPÍRITOS – QUARTA PARTE – CAPÍTULO 2 – DAS PENAS E GOZOS FUTUROS onde, como um dos Espíritos Superiores coordenados pelo Espírito A Verdade, vai chamar a atenção para a compreensão que se deve ter pelas palavras, buscando sua compreensão, contextualizando-as a fim de que não se faça pretexto acerca de sua significação.

Para nossa melhor compreensão, vamos inserir no texto algumas perguntas que, pensamos, são respondidas pelo filósofo desencarnado:

1. O que a humanidade, de maneira geral, tem produzido quando da interpretação dos textos antigos, principalmente quando se trata da vida futura?

“Guerras de palavras! guerras de palavras! Ainda não basta o sangue que tendes feito correr! Será ainda preciso que se reacendam as fogueiras? Discutem sobre palavras: eternidade das penas, eternidade dos castigos.

Ignorais então que o que hoje entendeis por eternidade não é o que os antigos entendiam e designavam por esse termo?

Consulte o teólogo as fontes e lá descobrirá, como todos vós, que o texto hebreu não atribuía esta significação ao vocábulo que os gregos, os latinos e os modernos traduziram por penas sem-fim, irremissíveis”.

2. Como compreender, então, o significado da expressão eternidade, haja visto a explicação dada por Galileu Galilei, como Espírito, cuja explicação consta da obra A Gênese de Allan Kardec, edição original de 1868?

“Eternidade dos castigos corresponde à eternidade do mal. Sim, enquanto existir o mal entre os homens, os castigos subsistirão. Importa que os textos sagrados se interpretem no sentido relativo. A eternidade das penas é, pois, relativa e não absoluta. Chegue o dia em que todos os homens, pelo arrependimento, se revistam da túnica da inocência e desde esse dia deixará de haver gemidos e ranger de dentes”.

3. Essa compreensão equivocada não é fruto da limitação do conhecimento humano, que, para ser adquirido, necessita de sucessivas reencarnações?

“Limitada tendes, é certo, a vossa razão humana, porém, tal como a tendes, ela é uma dádiva de Deus e, com o auxílio dessa razão, nenhum homem de boa-fé haverá que de outra forma compreenda a eternidade dos castigos”.


4. Todavia, há seres humanos que, de boa-fé, admitem a eternidade das penas?

“Pois quê! fora necessário admitir-se por eterno o mal. Somente Deus é eterno e não poderia ter criado o mal eterno; do contrário, forçoso seria tirar-se Lhe o mais magnífico dos seus atributos: o soberano poder, porquanto não é soberanamente poderoso aquele que cria um elemento destruidor de suas obras”.

5. É certo que os atributos divinos devem ser levados em conta, no entanto, mesmo em meio àqueles que admitem as ideias espíritas, há os que falam de uma suposta lei de causa e efeito?

“Humanidade! humanidade! não mergulhes mais os teus tristes olhares nas profundezas da Terra, procurando aí os castigos. Chora, espera, expia e refugia-te na ideia de um Deus intrinsecamente bom, absolutamente poderoso, essencialmente justo”. Platão.


Uberaba-MG, 30/03/2023
Beto Ramos

sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

A LEI DE CAUSA E EFEITO NÃO SE APLICA AO ESPIRITISMO

"A questão do livre-arbítrio pode resumir-se assim: o homem não é fatalmente conduzido ao mal; os atos que pratica não 'estavam escritos'; os crimes que comete não são o resultado de um decreto do destino" (Q. 872, LE).

Essa afirmativa de Allan Kardec, por si só, responde à seguinte indagação: a lei de causa e efeito se aplica ao espiritismo? Se os crimes cometidos pelo ser humano não resultam de determinações decretadas por um 'destino', ninguém será compelido a pagar o mal com o mal. Não haverá 'olho por olho, dente por dente'.

Mas, essa não é a ideia disseminada no movimento espírita. Pelo contrário. Eis o motivo, então, de nossa argumentação, segundo a Doutrina Espírita.

A princípio é necessário explicar o que se entende por lei de causa e efeito. Segundo a proposta comum a lei de causa e efeito seria um princípio universal, que significa que o acaso não existe. Essa afirmativa decorre da ideia de que um dos princípios da lógica é a causalidade, isto é, que todo efeito tem uma causa, a qual poderá ser boa ou ruim (resultados positivos ou negativos).

Uma confusão terrível sobre esse assunto é atribuir a Allan Kardec a ideia da existência de uma lei de causa e efeito. No entanto, como se depreende de sua afirmação em O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo 5 - Bem Aventurados os Aflitos, item 6, o organizador do Espiritismo, falando sobre as misérias humanas, esclarece que:

"[...] por virtude do axioma segundo o qual todo efeito tem uma causa, tais misérias são efeitos que hão de ter uma causa e, desde que se admita um Deus justo, essa causa também há de ser justa. Ora, ao efeito precedendo sempre a causa, se esta não se encontra na vida atual, há de ser anterior a essa vida, isto é, há de estar numa existência precedente".

Apontamos o seguinte:

1. Kardec afirma que efeito e causa é, para o Espiritismo, UM AXIOMA;

2. Toda a sua construção textual apresenta um hipótese teórica, conforme se vê no uso das expressões 'hão de ter', 'há de ser justa', 'se', 'há de ser' e 'há de estar';

3. Allan Kardec raciocina em 'alguma' existência precedente e não em 'uma existência específica'.

Já esclarecemos em outros artigos e vídeos que é necessário saber o significado de AXIOMA, uma vez que se trata uma premissa considerada necessariamente evidente e verdadeira, um fundamento de uma demonstração, isto é, uma premissa, um ponto de partida ou, em última instância, uma ideia para sustentar uma proposição. Um axioma é uma premissa importante, porém, ela é indemonstrável. Sua afirmação parte do raciocínio e de princípios inatos da consciência.

Por outro lado, a LEI, do ponto de vista filosófico, é uma expressão definidora das relações constantes que existem entre fenômenos naturais, como, por exemplo, a definição de uma propriedade física verificada de maneira precisa. Vale dizer: não se trata de uma hipótese teórica.

Se bem compreendida a diferença entre o axioma que é defendido pelo espiritismo e a ideia de lei, que é própria para fenômenos naturais, é importante recordar que uma das Leis Morais vigentes na Teoria Moral Espírita é a Lei do Progresso.

Kardec ensina que a força do espiritismo está na unidade de seus princípios e, nesse sentido, suas leis morais não podem se contradizer, isto é, nenhuma poderá ficar em posição antagônica às demais. Assim, nos seria lícito indagar: Há uma interferência divina no destino de cada indivíduo? Existe algo inexorável que o vá compelir nessa ou naquela direção?

A resposta é negativa, uma vez que na questão 802 de O Livro dos Espíritos, quanto à apressar ou não o progresso humano, encontra-se o seguinte ensinamento:

"[...] Não, não é por meio de prodígios que Deus conduzirá os homens. Na sua bondade ele quer deixar-lhes o mérito de se convencerem através da razão".

E, voltando à questão 872, iremos verificar que "sem o livre-arbítrio o homem não tem culpa do mal, nem o mérito no bem; e isso é de tal modo reconhecido que no mundo se proporciona sempre a censura ou o elogio à intenção, o que quer dizer à vontade; ora, quem diz vontade diz liberdade".

Mas, o que todas essas proposições tem a ver com a proposição inaugural, isto é, que a lei de causa e efeito não se aplica ao espiritismo?

É que na questão 804, que trata da lei de igualdade, em O Livro dos Espíritos, vamos verificar que:

"Deus criou todos os Espíritos iguais, mas cada um deles viveu mais ou menos tempo, e por conseguinte realizou mais ou menos aquisições; a diferença está no grau de experiência e vontade, que é o livre arbítrio; daí decorre que uns se aperfeiçoam mais rapidamente, o que lhes dá aptidões diversas".

Para encerrar, sobre fatalidade, os Espíritos ensinam na questão 851 de O Livro dos Espíritos que:

"A fatalidade só existe no tocante à escolha feita pelo Espírito, ao se encarnar, de sofrer esta ou aquela prova; Ao escolhê-la ele traça para si mesmo uma espécie de destino, que é a própria consequência da posição em que se encontra".

Todavia, os Espíritos explicam essa "espécie de destino": tratam-se das provas de natureza física (frio, calor, fome, sede, trabalho, cansaço, saúde, etc.).

Quanto às provas morais e as tentações, o Espírito conserva o seu direito à escolha entre o bem e o mal, sendo sempre senhor de si no que tange à ceder ou resistir, pois a vontade do Espírito encarnado é soberana e não é violada de forma alguma.

Concluindo, conforme a questão 872 de O Livro dos Espíritos, o que há de fatal para o Espírito encarnado será quanto à sua posição na Terra, suas funções a ser desempenhada (como consequência do gênero de prova que escolheu). Além disto, sofre todos os problemas dessa existência e todas as tendências boas ou más que lhe são inerentes. Contudo, ainda assim, ceder ou não às suas más tendências (ao próprio caráter) fica na dependência da sua própria vontade.

O que surge para garantir a impossibilidade da lei de causa e efeito ser aplicada à teoria espírita é que:

"[...] Os detalhes dos acontecimentos estão na dependência das circunstâncias que ele mesmo provoque, com os seus atos, e sobre os quais podem influir os Espíritos, através dos pensamentos que lhe sugerem; [...] a fatalidade está, portanto, nos acontecimentos que se apresentam ao homem em consequência da escolha de existência feita pelo Espírito; mas pode não estar no resultado desses acontecimentos, pois pode depender do homem modificar o curso das coisas, pela sua prudência; e jamais se encontra nos atos da vida moral.

É nossa opinião que os Espíritos e Kardec não poderiam ser mais claros em nos demonstrar a IMPOSSIBILIDADE de se aplicar uma lei de causa e efeito ao espiritismo. Portanto, podemos afirmar sem assombros: A LEI DE CAUSA E EFEITO NÃO SE APLICA AO ESPIRITISMO.

Aproveito, por fim, para refutar todas as minhas opiniões anteriores em contrário.

Uberaba-MG, 20/01/2023
Beto Ramos

segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

HÁ RELAÇÃO ENTRE A SOCIOLOGIA E O ESPIRITISMO?

O nosso propósito nesta publicação é saber se o Espiritismo, como ciência da observação e filosofia com consequências morais ‘absorve’ de certa maneira, ou melhor dizendo, atrai para si a preocupação com os objetos de estudos de outras ciências.

Vamos refletir sobre a sociologia.

Sabemos que é uma parte das ciências humanas que estuda o comportamento humano em função do meio e os processos que interligam os indivíduos em associações, grupos e instituições.

Aprendemos no Espiritismo que o meio vai influenciar sobremaneira no gênero de provas a que o Espírito se submete, isto é, suas escolhas consideram, entre outras coisas, o meio a que está inserido.

É lícito perguntar como esse comportamento dos encarnados irá influenciar na vida do Espírito? Indivíduos que se reuniram em associações, grupos e instituições vão, novamente, se reunir no mundo espiritual?

A sociologia tem uma base teórico-metodológica voltada para o estudo dos fenômenos sociais, tentando explicá-los e analisando os seres humanos em suas relações de interdependência. Portanto, um dos objetivos da sociologia será compreender as diferentes sociedades e culturas.

A pergunta que fazemos é: como essa compreensão influenciará na vida espiritual? Há uma relação de interdependência entre os Espíritos nas suas diversidades de classes?

Acreditamos que é possível encontrar respostas concretas para essas e outras reflexões que podemos fazer na relação entre a Sociologia e o Espiritismo. Deixamos aqui consignado para que você, leitor ou leitora, traga a sua contribuição para esse ensaio.

Uberaba-MG, 02/01/2023

Beto Ramos

quinta-feira, 18 de agosto de 2022

O ESPIRITISMO E A SOLUÇÃO DE PROBLEMAS DE ORDEM PSICOLÓGICA, MORAL E FILOSÓFICA.

 

"A Doutrina Espírita contém a solução de um certo número de problemas do mais alto interesse, de ordem psicológica, moral e filosófica". (O Que é o Espiritismo - Preâmbulo).


Todo aquele que estuda o espiritismo, certamente, já se deparou com essa afirmação de Allan Kardec em um de seus magistrais resumos da Doutrina Espírita. É importante sempre buscar agregar conhecimento em torno daquelas palavras, termos e frases usadas pelo organizador do Espiritismo, pois disto decorre e depende a compreensão adequada do edifício espírita.

Somente nessa frase, antes destacada, já podemos encontrar razões  suficientes para uma meditação profunda. Vamos, portanto, refletir sobre as expressões usadas: psicológica, moral e filosófica.

Nessa breve exposição procuraremos demonstrar onde, entre outras fontes da lavra do professor, estão contidos os desenvolvimentos de Kardec conforme cada campo do saber citados na frase objeto do estudo, segundo a compreensão que temos de cada um deles. Vejamos:


PSICOLOGIA

1. São os estados e processos mentais do indivíduo:

- O estado mental do Espírito, como aprendemos na Obra O Céu e o Inferno, refere-se ao estado feliz ou infeliz do Espírito, encarnado ou não;

- Esses estados em que se encontram representam o céu para o Espírito Feliz e o inferno para o Espírito Infeliz.

2. Trata do comportamento do indivíduo, como de sua interação com o ambiente físico e social:

- O comportamento do Espírito, sua interação com o mundo espiritual, como percebe e compreende esse ambiente está em conformação com sua elevação e o conhecimento adquirido; Disso decorre o modo como interage com os demais Espíritos (Escala Espírita, O Livro dos Espíritos).

Além do mais, tudo isto se reflete no mundo físico, uma vez que o Espírito reencarna, se comporta e interage com as pessoas segundo o seu caráter (União do Princípio Espiritual e da Matéria, Cap. 11, Gênese Espiritual, A Gênese).


MORAL

São as bases que guiam a conduta do Espírito, ensinando a melhor forma de agir e se comportar dentro de uma sociedade:

Em O Livro dos Espíritos encontramos qual a definição de moral dada pelos Espíritos, como o Espírito deve se comportar em relação aos semelhantes e perante Deus, bem como a própria distinção do bem e do mal (Questão 629 e seguintes).


FILOSOFIA

O Espiritismo supera o senso comum no que se refere à realidade empírica e das aparências percebidas pelos sentidos físicos:

- O Espiritismo se relaciona com o conhecimento científico avaliando os campos do saber e contribui para o desenvolvimento de muitos ramos do saber (Revistas Espíritas);

- No campo da metafísica o Espiritismo supera as meras especulações e traz respostas sobre as verdades primeiras relativas a Deus, Alma e Matéria (O Livro dos Espíritos); Enquanto usa procedimentos argumentativos, lógicos e dedutivos, relaciona teoria e prática (O Livro dos Médiuns e O Céu e o Inferno);

- O Espiritismo apresenta as consequências éticas e psicológicas advindas das relações mantidas entre os Espíritos (Definição de O Que é o Espiritismo, Preâmbulo da obra de mesmo nome);

- A razão é a condutora da fé; O procedimento do Espiritismo é o método racional, vez que não traz teoria, doutrina ou sistema preconcebido (Folha de rosto da obra O Evangelho Segundo o Espiritismo). Tudo perpassa pelo método científico da observação (O Livro dos Médiuns, Revistas Espíritas e O Céu e o Inferno).

Vários desses pontos mencionados são abordados por Allan Kardec na Obra O Que é o Espiritismo. Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, ao apresentar a base da Autoridade da Doutrina Espírita, encontram-se as mesmas explicações ora desenvolvidas.

Como ciência-filosófica o Espiritismo superou o senso-comum e não se constituiu em sistema especulativo (O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Céu e o Inferno e Revistas Espíritas). Em O Livro dos Médiuns, como na obra O Céu e o Inferno, o Espiritismo trouxe a prática e a experimentação, inclusive a comprovação da estruturação filosófica da Doutrina Espírita (O Livro dos Espíritos).

As informações aqui compartilhadas são apenas fragmentos daquilo que o leitor poderá encontrar como desenvolvimento daquela frase inicial nas obras escritas por Allan Kardec.  Também, é fato, constituem-se em nossa interpretação do conteúdo exposto para estudo na Doutrina dos Espíritos.

Então, mãos à obra. Bons estudos.

Uberaba-MG, 18/08/2022.
Beto Ramos

quinta-feira, 21 de abril de 2022

A EXATA COMPREENSÃO DO QUE É: FAZER O BEM E FAZER O MAL

Segundo o Livro Terceiro, capítulo 1, A lei Divina ou Natural, especialmente no item 3, subtítulo O Bem e o Mal, na questão 629, Allan Kardec indagou aos Espíritos Superiores: que definição se pode dar à moral?

Os Espíritos então responderam que a moral é a regra da boa conduta e portanto da distinção entre o bem e o mal. E, explicando, afirmaram que "O homem se conduz bem quando faz tudo tendo em vista o bem e para o bem de todos, porque então observa a lei de Deus".

Para compreender a distinção do bem e do mal por si mesmo, segundo os Espíritos, a humanidade foi dotada da faculdade denominada inteligência, o que lhe permite discernir um do outro.

A ideia central esposada nesse campo do estudo filosófico, sem dúvida, está insculpida na máxima evangélica: "Não faças a outrem aquilo que não quererias que te fizessem; faze a outrem aquilo que quererias que te fizessem".

Portanto, o campo de investigação está naquilo que foi designado por Paul Alexandre Rene Janet (1823-1899), em seu Tratado Elementar de Filosofia (1885), como MORAL SOCIAL, isto é, os deveres que a humanidade tem reciprocamente, que em resumo é: fazer o bem, não fazer o mal.

Todavia, não é tão simples quanto parece, sendo necessária uma profunda reflexão, da qual tentaremos nos desincumbir. A priori, tem se compreendido que, de modo geral:

a. O bem vincula-se a 'dar prazer a alguém';

b. O mal vincula-se a 'fazer alguém sofrer';

Nesse sentido, Janet constrói o seu pensamento sobre o tema questionando: fazer o bem é entregar os objetos do desejo a alguém? Por exemplo: dar travesseiro macio ao preguiçoso, vinhos ao ébrio, maneiras e rosto afável ao velhaco mentiroso, um bom pulso ao sujeito violento?

Tudo isto satisfaria as paixões desses indivíduos. Mas, seria isto, então, fazer o bem? E, lado outro, fazer o mal é constranger as paixões alheias ou causar dor? Por exemplo, o cirurgião que corta a gangrena, o dentista que extrai o dente e o pai que educa o filho?

Nesse sentido, compreender o que é fazer o bem e fazer o mal é questão mais profunda. Um sofrimento causado pode proporcionar o bem (dor que causa prazer), enquanto o prazer que satisfaz paixões pode proporcionar o mal (prazer que causa dor).

Voltemos, assim, à máxima evangélica. Como compreender que não devemos fazer ao outro aquilo que não queremos que nos faça e fazer ao outro aquilo que desejamos que nos seja feito? Ora, em geral, ninguém quer ser punido ou corrigido, mas quer que seus vícios e suas paixões sejam satisfeitos.

É uma realidade. Contudo, Paul Janet, esclarece que esta interpretação rasa não provém dos indivíduos que já possuem a LEI DO DEVER. Neles, o sentimento é outro. É que o Evangelho não nos convida à tibieza e complacência. A ideia é outra: trata-se de uma VERDADE MORAL. Ou seja, a verdadeira e BOA VONTADE. E, nesse caso, não se trata da vontade das paixões, isto é, da MÁ VONTADE.

Carecemos, para bem compreender o assunto, fazer diferença entre os verdadeiros bens e os bens aparentes (falsos), os verdadeiros males e os males aparentes (falsos).

Vale questionar: quais são os males verdadeiros e os males aparentes quando se recomenda a NÃO FAZER O MAL?

Em Paul Janet vamos compreender que:

1. VERDADEIROS BENS: independem do prazer e se recomendam pela utilidade e pelo valor moral (Exemplo: saúde e educação).

2. FALSOS BENS: consistem exclusivamente no prazer (exceto no que diz respeito à utilidade e ao valor moral).

3. VERDADEIROS MALES: ferem o interesse (bem entendido) e a moral dos demais (Exemplo: miséria e corrupção).

4. MALES APARENTES: são momentaneamente sofridos, mas compensados por vantagens posteriores (Exemplo: medicamentos e repreensão da conduta).

Entramos, pois, no campo do DEVER MORAL. O bem aos outros deve ser compreendido como o bem entendido interesse deles, isto é, o BEM MORAL.

Em relação a si mesmo, o indivíduo não deve ter como FIM das ações praticadas, o interesse próprio. E, nesse ponto, Janet adverte para que esse raciocínio não seja estendido para os outros.

A FELICIDADE própria buscada, ensina o filósofo, NÃO TEM QUALQUER VALOR MORAL. Buscar a FELICIDADE ALHEIA, ao contrário, pode ter VALOR MORAL, desde que não se engane quanto ao VERDADEIRO sentido da palavra FELICIDADE.

Em Paul Janet, FELICIDADE não é confundida como uma SENSUALIDADE falaz e transitória. Finalmente, a máxima cristã deve ser compreendida como: uma VONTADE ESCLARECIDA que só queira para si o que estiver conforme o INTERESSE bem entendido e a virtude.

"Fazer aos outros quanto quereríamos que se nos fizesse, não lhes fazer aquilo que não quereríamos que se nos fizesse", resume perfeitamente a MORAL SOCIAL.

Uberaba-MG, 21/04/2022.
Beto Ramos.


FONTE:

JANET, Paul. Tratado Elementar de Filosofia. Domínio público. Pode ser encontrado na internet em PDF.

terça-feira, 23 de novembro de 2021

ÉTICA, MORAL E SOCIEDADE...

 

Aristóteles falou, para Nicômaco, de uma ação voluntária e moral do indivíduo. Algo diferente da política.

Maquiavel observou com mais clareza a realidade e enxergou o essencial atrás de meras aparências, reconhecendo que a política é, antes de tudo, o exercício de escolha.

Weber, também, viu uma pseudo ética protestante se aliando ao "espírito" do capitalismo.

Mas, antes, Hobbes falou da matéria, forma e poder de um Estado eclesiástico e civil: seria o verdadeiro LEVIATÃ. Não obstante, acusar o ser humano de ser o "lobo" dele mesmo.

Platão sonhou com a República e Rousseau fundamentou esse contrato social.

Dividindo poderes, propondo estabelecer uma base harmônica do contrato na república, Montesquieu tratou de falar sobre o espírito das leis.

Nietzsche, observando tudo do alto daquilo que alguns entenderam como loucura, entreviu uma complexidade e, diferente de Aristóteles, buscou saber sobre a genealogia da moral: o que move o ser humano?

Kafka contou a história de um processo e Foucalt, diante de um julgamento histórico da civilização, cujo sistema é o de vigiar e punir os que teimam em mostrar que a igualdade plena se encontra nas diferenças, demonstrou a violência nas prisões.

Mas, contemporaneamente, é Bandeira de Melo que irá alertar: há um conteúdo jurídico no princípio da igualdade.

Se não amor e respeito bastante para compreender o conteúdo divino da igualdade entre os direfentes, os filósofos precisam continuar espalhando seu amor à sabedoria, pois, ainda agora, a CRISE DA HUMANIDADE É MORAL.

Uberaba-MG, 23/11/2021.
Beto Ramos.

quinta-feira, 16 de setembro de 2021

OBRAS PÓSTUMAS NÃO É UM LIVRO DOUTRINÁRIO


ALLAN KARDEC
E O
CONTEÚDO
DE
OBRAS
PÓSTUMAS


É bastante comum observamos no movimento espírita brasileiro o uso do conteúdo de Obras Póstumas para justificar esse ou aquele posicionamento relacionado à Doutrina Espírita.

Nesse sentido, é lícito indagar: o conteúdo de Obras Póstumas é produto do trabalho de Allan Kardec? Para responder não basta lançar mão de uma opinião pessoal, é preciso deter um conjunto de conhecimentos prévios sobre o Espiritismo.

Em discurso pronunciado no túmulo de Allan Kardec, por ocasião de seu falecimento e diante de seus restos mortais, Camille Flammarion começa dando testemunho 'do relevante serviço que o autor de O Livro dos Espíritos prestou à filosofia, provocando a atenção e a discussão de fatos até então pertencentes ao domínio mórbido e funesto das superstições religiosas". 

Mais à frente no seu longo discurso Flammarion esclarece que Allan Kardec preferiu "constituir um corpo de doutrina moral a ter aplicado a discussão científica à realidade e à natureza dos fenômenos".

Tudo isso para conferir a Allan Kardec o título de "o bom senso encarnado". É, portanto, nesse sentido que pretendemos objetar ao conteúdo de Obras Póstumas ser labor de Kardec para constituir e tomar parte da Doutrina dos Espíritos, uma vez que, como afirma Camille, "o Espiritismo não é uma religião, mas uma ciência".

Afastado o caráter religioso, é preciso recordar que Kardec, na Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita, afirmou que "O Livro dos Espíritos contém a Doutrina Espírita; como generalidade liga-se ao Espiritualismo, do qual apresenta uma das fases".

Para fundamentar nossa tese definiremos as palavras Doutrina e Filosofia. Doutrina é o conjunto coerente de ideias fundamentais que compõem um sistema filosófico a serem transmitidas, ensinadas. Filosofia é a ciência que investiga a dimensão essencial e ontológica do mundo real, ultrapassando a opinião irrefletida do senso comum, o qual é escravo da realidade empírica (materialismo).

Na apresentação da obra O Céu e o Inferno por ocasião da notícia de seu lançamento, à guisa de prefácio, na Revista Espírita de setembro de 1865, Kardec esclarece como produzia uma obra. Afirmou que "como nossos outros escritos sobre a doutrina espírita, aí nada introduzimos que seja produto de um sistema preconcebido, ou de uma concepção pessoal, que não teria nenhuma autoridade: tudo aí é deduzido da observação e da concordância dos fatos".

Ali, também, Kardec indicou o conteúdo de cada obra publicada sobre o Espiritismo. O Livro dos Espíritos contém as bases fundamentais do Espiritismo cujo conteúdo é desenvolvido em outras obras. O Livro dos Médiuns e o Evangelho Segundo o Espiritismo se apresentam, sobre os princípios fundamentais, como pontos de vistas especiais, onde se deduzem todas as consequências e todas as aplicações à medida que se desenrolavam pelo ensino complementar dos Espíritos e por novas observações.

Importa remeter o leitor à uma nota de Kardec na Introdução de O Evangelho Segundo o Espiritismo, item I, objetivo da obra, em que afirma:

"Poderíamos dar, sem dúvida, sobre cada assunto, maior número de comunicações obtidas numa multidão de outras cidades e centros espíritas, além dos que citamos. Mas quisemos, antes de tudo, evitar a monotonia das repetições inúteis, e limitar a nossa escolha às que, por seu fundo e por sua forma, cabem mais especialmente no quadro desta obra, reservando para publicações posteriores as que não entraram aqui".

Cumpre, ainda, esclarecer qual era o critério de Kardec para publicação do Ensino dos Espíritos. Essa metodologia é que proporciona verificar a autoridade da Doutrina Espírita. Trata-se do controle universal do Ensino dos Espíritos. 

Antes de qualquer publicação Kardec usava o controle da razão, ao qual submetia tudo o que vinha dos Espíritos, sem exceção. O que encontrasse obstáculos no bom-senso, além do controle da razão, também submetia-se ao controle da lógica rigorosa. Mas, tudo isso, afirma Kardec, ainda era insuficiente para muitos casos, uma vez que muitos indivíduos não possuem conhecimento suficiente para o uso desse critério. Depreende-se que a análise das comunicações demanda domínio de várias áreas do conhecimento, bem como da Filosofia e da Lógica.

Por isso, além dos critérios acima, era necessário buscar a concordância no ensino dos Espíritos. Essa concordância requer espontaneidade nas comunicações, cuja fonte deve ser um grande número de médiuns, estranhos uns aos outros, e provenientes de diversos lugares. Outro critério de Kardec é o da prudência na publicação de qualquer informação. Não sendo atendidos todos os passos de seu método, aquilo que ele julgasse necessário publicar era publicado, mas, sempre com a advertência de que o fazia como opinião pessoal individual com a necessidade de comprovação.

Voltemos agora ao conteúdo de Obras Póstumas. Como se sabe esse livro foi publicado 20 anos depois da morte de Kardec. O que era importante publicar foi feito por Kardec em vida, conforme o método acima observado, no tempo oportuno e nas obras mencionadas. Haveria, então, alguma outra obra que Kardec gostaria de publicar?

Segundo Camille Flammarion, antes de morrer Allan Kardec trabalhava numa obra cujo conteúdo trataria de magnetismo e espiritismo. Ora, onde estão esse manuscritos? Por que esse conteúdo não seria mais importante que aquele de Obras Póstumas? Haveria interesses contrapostos à Doutrina dos Espíritos pelos 'continuadores' daquela sociedade criada pelo codificador?

Pois bem. Nada, absolutamente nada, sobre o tema que era estudado por Kardec foi publicado com tal indicação pelos mesmos publicadores do conteúdo de obras póstumas. O conteúdo dessa obra, portanto, seria fruto do trabalho de Kardec? A resposta é NÃO.

O fato de que os textos tenham sido encontrados nas gavetas de Kardec podem possuir valor do ponto de vista da história do espiritismo. Sua divulgação deveria ocorrer na integralidade e não com supressão de partes, pois isto indica interesse escuso ou, ao menos, estranho.

O trabalho de Kardec era organizar as informações advindas dos Espíritos e de interesse geral para a humanidade. O que possui caráter pessoal, segundo Kardec só é de interesse do destinatário. Mas, observamos que Obras Póstumas contém comunicações com a inscrição: particular.

Aliás, boa parte do conteúdo de Obras Póstumas tem natureza pessoal e não coletiva. Questionamos, então.

Por qual motivo Kardec não havia publicado esse conteúdo em vida? Teria dúvidas sobre o mesmo? Seria relevante para o público em geral? Passaram pelo crivo do controle universal? Kardec aguardava confirmação? Seria material para a história do espiritismo? Por que os 'continuadores' não publicaram o material referente a magnetismo e espiritismo tratado no discurso de Camille Flammarion no túmulo de Kardec?

Para comprovar nossa tese verificamos, conforme as imagens a seguir, que o conteúdo publicado em Obras Póstumas sofreu supressão (ou seria adulteração?). A seguir trazemos o conteúdo original , um manuscrito que tivemos a honra de ser agraciados com a imagem pelo Projeto Cartas de Kardec - FEAL, com o qual colaboramos, onde o Codificador conversa com um Espírito acerca de uma possível modificação na obra A Gênese.

Vamos recordar que há uma discussão/denúncia sobre existência de diferenças  retumbantes no conteúdo dessa obra entre a 4ª e 5ª edições, em que se discute a 'autoria' da mudança feita na 5ª edição (para facilitar, apresentamos, também, a tradução do manuscrito, o qual indicamos a leitura atenta):


O 'conteúdo' publicado em Obras Póstumas tratando do assunto desse mesmo manuscrito, referindo à mesma comunicação, além de sua reprodução com supressão de conteúdo, tem a flagrante constatação (na qual o leitor poderá observar por si mesmo, bastando a leitura atenta):




No manuscrito original, advindo do acervo da família de Canuto Abreu (em poder da FEAL), vê-se que a informação é distorcida. É lícito a qualquer estudante indagar qual o objetivo disto. Veja que no original a indicação é que o Espírito e Allan Kardec falavam sobre a Obra A Gênese. Falavam sobre o assunto alteração. Mas, o importante é verificar que estão tratando das 3ª e 4ª edições. Em Obras Póstumas, com o conteúdo modificado e suprimido, reportam-se à "4ª e 5ª". Nesse caso, a polêmica atribuída a Henri Sausse, levantada por Paulo Henrique de Figueiredo e pela FEAL na atualidade, não é produto de pessoas que postulam divisão no espiritismo, mas, seriedade com o conteúdo doutrinário. O mínimo que podemos fazer é atentar para a advertência e para as evidências ora apresentadas.

Convidamos o (a) leitor (a), após comparar os conteúdos ora publicamos, que reflita sobre a nossa afirmação derradeira:

O conteúdo de obras póstumas não é da lavra de Allan Kardec e não pertence ao conjunto publicado que contém a Doutrina dos Espíritos, poderá servir, se os documentos forem publicados integralmente, para compor a história do espiritismo, nada mais.

Uberaba-MG, 16/09/2021
Beto Ramos.







quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

O ENSINO DOS ESPIRÍTOS E O PENSAMENTO FILOSÓFICO

Hoje, neste artigo, quero compartilhar com vocês leitores (as) algumas referências encontradas no estudo da filosofia que, ao nosso sentir, estão presentes na Obra produzida pelo insigne Professor Rivail, usando o pseudônimo Allan Kardec. O objetivo é que, juntos, possamos nos apropriar da influência científico-filosófica em todo o trabalho que, mais tarde, seria conhecido como Codificação do Espiritismo.

Todas as proposições a seguir possuem um caráter de estudo, partindo das premissas encontradas nas pesquisas bibliográficas, deduzindo o resultado, uma vez que não há referência direta feita por Rivail para cada uma dessas influências. Todavia, está patente no seu trabalho uma divisão em conformidade com a estrutura didático-pedagógica do currículo dos cursos de filosofia contemporâneas à sua produção científica.

Não iremos esgotar tudo o que poderá ser encontrado pelo estudante, pois, a sugestão de fundo é que cada interessado, também, busque certificar-se de que tais influências estão diretamente ligadas às perguntas e respostas consolidadas em todas as Obras da Codificação.

Sem dúvida, podemos pensar que a Lei do Progresso possui, em sua base, o pensamento de Heráclito: “Não se pode entrar duas vezes no mesmo rio”. O mesmo pode-se dizer quanto ao Livre Arbítrio: “Os caminhos para cima ou para baixo são um só e a mesma coisa, depende do ponto de partida”. Quando se pensa em Espírito simples e ignorante com o potencial para evoluir, esse filósofo, acerca do conhecimento, ponderou: “De onde vem o conhecimento? da nossa mente, do nosso pensar e não da nossa conservação das coisas”.

Parmênides, concordando com Heráclito, vai ponderar que o conhecimento empírico é subjetivo, pois, o ser humano para descobrir o mundo, deve confiar somente na lógica e no pensamento: “ser é a mesma coisa que pensar”.

Quando nos deparamos com as reflexões de Anaxágoras de que tudo está em tudo, imediatamente, recordamos da resposta dos Espíritos na questão 540 de O Livro dos Espíritos. Isto é corroborado pelo fato de que a ideia da existência dos “não cortáveis” - dos ÁTOMOS -, os quais, segundo esse pensador, “formam as coisas quando colidem entre si, formando novos compostos”.

Não seria o sofista Protágoras, se dando conta das implicações das crenças e dos comportamentos humanos, questionando se uma crença é natural ou cultural, o precursor da fé raciocinada como concebida por Rousseau e Kant?

Não há dúvidas sobre questões envolvendo a imortalidade da alma tratadas pelo precursor Sócrates, inclusive suas defesas, naquele tempo, do livre-pensamento e da liberdade de consciência, da ética humana e política. Sobre os conhecimentos inatos, aos quais os Espíritos respondem a Allan Kardec em O Livro dos Espíritos, Platão afirmou que todos já nascemos programados com certos tipos de conhecimento. Sua explicação fundamenta-se no fato de que “todos temos uma alma imortal, pois, já passamos por existências anteriores”. Na sua formulação “tudo o que aprendemos não passa de um (re) conhecimento ou anamnese (memória)”.

Esse filósofo também formulou que existem dois mundos, o das coisas óbvias do cotidiano e o das eternas e perfeitas formas. Seria a base para se compreender a constatação da inédita informação dada no Livro Segundo de O Livro dos Espíritos onde o tema central é: MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS? Onde os Espíritos transmitem o conhecimento que experimentaram do seu mundo, percebido pelas sensações do perispírito.

Parece que Platão captou a ideia de mundo espiritual, mas, não soube explica-la. Considerou o mundo das formas, mas, não Espíritos e mundo espiritual. Mas, não há dúvida de que no fundo há a ideia de superação dos meros fenômenos sensíveis da matéria, confirmada, mais tarde, em O Livro dos Espíritos.

Finalizando a contribuição de Platão, quando o estudamos e encontramos sua ideia de que “para conhecer realmente alguma coisa é preciso experimentá-la, vivenciando sua experiência de modo direto”, ao menos nesta reflexão, recorda-se a proposição contida na questão 132 de O Livro dos Espíritos, onde se verifica a necessidade da encarnação dos Espíritos para vivenciar experiências variadas em cada mundo e por cada ponto de vista, sendo necessária a reencarnação no processo evolutivo.

A lógica dedutiva ou silogística está presente na Obra de Kardec. Aristóteles foi o seu precursor, estabelecendo os critérios das premissas maior e menor e da conclusão, componentes dessa construção. A ideia central desse tipo de raciocínio é que a conclusão não admita mais que as premissas.  Também é o criador do método da indução. Essa matriz parece estar na base da ciência espírita.

Aristóteles começa a fazer ciência quando passa a generalizar do observável especificamente para espécies. Usando generalizações indutivas sobre as espécies para fazer uma dedução sobre indivíduos, o que permite à ciência fazer uma previsão. A construção científica da “causa final” das coisas individuais e que cada uma delas possui uma função potencial é sua construção.

Quanto à "causa final" afirmou que tudo e cada acontecimento tem uma causa; recuando até o começo dos tempos chegaremos à conclusão de que deve ter havido uma CAUSA PRIMEIRA, o PRIMEIRO MOTOR. Algo como um CRIADOR DIVINO. Parece-nos ser essa construção a base racional do ensino contido no Livro Primeiro de O Livro dos Espíritos.

Aristóteles também tratará de almas e substâncias falando de essência e acidente. Intrigante é a sua reflexão acerca de vegetais, animais e humanos, sendo que os primeiros possuem uma alma vegetativa porque crescem, os segundos possuem alma animal em razão das sensações, e os terceiros possuem as duas, bem como a razão. Pareceu não garantir a imortalidade da alma. Assim, é possível ponderar que não falava de alma como se compreende. Sua base reflexiva estaria de acordo com o que contém O Livro dos Espíritos quanto ao princípio vital, o instinto, a inteligência e a razão.

Por fim, esse filósofo tratou da ética da moderação (uma realização própria) e da capacidade humana de se adquirir competências por meio do conhecimento, o qual pode ser transmitido, além dos hábitos condicionados elaborados ao longo do tempo e as escolhas necessárias do cotidiano, sendo a Moral compreendida como um Código de Conduta. Em O Livro dos Espíritos há a afirmação dos Espíritos de que realmente a Moral é a conduta humana na prática do bem.

Foram esses os apontamentos que ousamos fazer e que ficaremos felizes em receber todas as críticas necessárias, solicitando sempre que o prévio estudo das informações contidas em O Livro dos Espíritos preceda o debate.


Fonte Bibliográfica:

ROBINSON, Dave. Entendo a filosofia: um guia gráfico da história do pensamento / Dave Robinson, Judy Groves; Tradução Marly N. Peres. São Paulo: Leya, 2012.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

FILOSOFIA ESPÍRITA

Para responder essa pergunta seria necessário um estudo aprofundado da Doutrina Espírita, bem como conhecer a história do Espiritismo e como se concebia ciência no século 19, pois, o Espiritismo não só é FILOSOFIA como classifica-se entre as CIÊNCIAS FILOSÓFICAS. 

Um fato que não é divulgado pelos Espíritas precisa ter o devido registro, face sua importância diante desse tipo de indagação feita no título deste artigo. A primeira obra da Codificação, O Livro dos Espíritos, está estruturada de acordo com os temas e desafios investigados nas demais ciências filosóficas contemporâneas a Kardec. Seu grande mérito está na profundidade e unidade sistêmica das respostas dos Espíritos Superiores sobre as questões fundamentais da humanidade, o que os autores humanos não alcançaram.

Seguindo a “grade curricular” do ensino de filosofia do século 19, O Livro dos Espíritos oferece um conjunto de conteúdos e assuntos equivalentes. Sua divisão observa no Livro Primeiro causas primárias (Deus, alma e matéria), abordando as faculdades da alma (razão e senso moral) separando-as das orgânicas (instinto e paixões). É o mesmo currículo da metafísica geral ou ontologia e da metafísica especial. Os assuntos dos capítulos se referem à teodiceia, a cosmologia e a psicologia racional.

O Livro Segundo, inédito no campo da filosofia, reporta-se ao mundo espiritual, esmiuçado em detalhes pelos Espíritos Superiores, fruto de seu conhecimento: uma verdadeira ciência dos espíritos. Os Livros Terceiro e Quarto vão discorrer sobre a moral conforme as Leis Naturais ou Divinas, cujo desenvolvimento é racional, mas, com a inédita análise experimental pelos ensinamentos dos espíritos. Note bem que:

“[...] o espiritismo, proposto por Kardec como sendo uma nova ciência filosófica, respeita, em sua obra fundadora, a estrutura temática e os desafios a serem vencidos nas demais ciências filosóficas de seu tempo[1]”.



[1] FIGUEIREDO, Paulo Henrique de. Revolução Espírita: a teoria esquecida de Allan Kardec. São Paulo: MAAT, 2016. Pg. 199.


Uberaba - MG, 06 de Janeiro de 2021
Beto Ramos

DESTAQUE DA SEMANA

A DOUTRINA DOS ESPÍRITOS NÃO É ASSUNTO QUE SE ESGOTA EM UMA PALESTRA

  EM SUAS VIAGENS KARDEC MINISTRAVA ENSINOS COMPLEMENTARES AOS QUE JÁ POSSUIAM CONHECIMENTO E ESTUDO PRÉVIO. Visitando a cidade Rochefort, n...